Igrejinha
Que não seja pequena demais, para ninguém
rezar fora ou arder em penitência lá dentro.
Não seja enorme a parecer vazia também.
E que se enxergue de longe ou surja logo após
uma curva no traço da estrada do lugar,
como um convite à oração, do Céu a todos nós.
Pode ser de qualquer cor, desde que seja branca
(todavia, admite-se um amarelo bem claro).
Se for o caso, no portal um nome de santa.
Que haja um impecável e sempre verde gramado,
esparramado dos lados; no meio, a igrejinha
a evocar a calma de um dia santificado.
A grama aparada com esmero, não tão alta,
para não parecer desleixo, e não muito rente,
a fim de preservar a terra e não fazer falta.
Que o padre ou o pastor, disposto no seu plantão,
resida ao lado, numa casa bem simplesinha,
pronto para um conselho ou ato de extrema-unção.
E jamais se esqueça do outro lado ou lá no fundo,
colado junto ao bosque das árvores nativas,
berçário das bromélias mais lindas deste mundo,
um bom galpão aberto - com forno e churrasqueira,
para os assados da quermesse - onde irão sentar-se
crentes e autoridades em bancos de madeira,
e quem sabe um deputado em ano de eleição.
Quando no litoral, que se volte para o mar,
a lembrar que somos grãos, e Deus, a imensidão.
Se for a paisagem de serra, que ela dê as costas
para as montanhas, de modo que da frente observe-se
ao fundo a grandiosidade do Pai nas encostas.
Que alguém, toda semana, assuma a nobre função,
empregando zelo, capricho e boa vontade,
de espanar o altar e encerar as tábuas do chão.
E que as mulheres arrumem nos vasos as flores,
que têm a sorte de dar à casa do Senhor
um coquetel de perfume e uma festa de cores.
Imprescindível a torre, ícone do sagrado,
ou abóbada. Se possível, um campanário.
Enfim, qualquer coisa que sobressaia ao telhado
e, apontando para o alto, faça elevar as preces
de tantos pecadores, para trazer na volta
o alívio dos aflitos e, para quem padece
de amor, como as esposas e maridos traídos,
que chegue o consolo e a esperança de outra pessoa
logo encontrar. Para quem teve o orgulho ferido,
misericórdia e boa dose de humildade.
Muita saúde aos doentes, fé para os descrentes,
independente dos papéis na sociedade.
Que ela traga do Céu a Divina Compaixão,
para todos nós, pobres pecantes em geral.
E para os arrependidos, que venha o perdão.
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N. do A. – Na ilustração, o Santuário Tabor Magnificat, em Campo Comprido, Curitiba, Paraná, em foto do autor.