a cozinha sabia mais da vida do que os livros

Que a minha cidade

Era boa

Já não sei

Mas água daquela

Densa e corpórea

desacorrentava deusas

e esfaziava as hortas

dos porcos e

os cata-ventos

respondia ao aroma do vento

e nos dissolvia na vida

como se fossemos ácuçar

e a dor uma pedra rara

lago puro e cristalino

Onde moças

Se jogavam

E eu queria apenas

Clemência

Longo e delicado

Eram seus braços

E suas bocas

Só me escreviam

No mundo

E eu mal soletrava

A mim mesmo

Mal sabia

Que anjos e demônios

Se abraçam

Amam e se odeiam

Escuro era a cor

De meu lume

e a cozinha

sabia mais da vida

do que os livros

Alex Ferraz Silva
Enviado por Alex Ferraz Silva em 16/05/2013
Código do texto: T4294022
Classificação de conteúdo: seguro