Cicatrizes
Olha o meu corpo.
Vês quantas cicatrizes
Tatuam minha matéria?
Agora tenta enxergar a minha alma
E não te assustes
Com o vestido cicatrizado que a cobre
Como uma grinalda etérea
Tantas feridas já latejaram
Sobre essa sombra
E o que sobra são marcas
Que me calejam
Mas não me fazem desistir
Dores que me balançam sem férias
Mas não me derrubam
Nem me afastam de mim
Tantas foram curadas
Pelo antiinflamatório tempo
E o sopro carinhoso dos amigos
Outras, no inverno, dão sinal de vida
Com umas fisgadas perdidas,
Num nervo escondido
Esse sangue que vês escorrer
É apenas hemorragia
Diferente de tantas outras
E igual a outras tantas
Não te preocupes com a bagunça
Os rastros que chamam atenção
Ou o barulho que venha fazer
Pois o chão que ele suja
Será lavado com minhas lágrimas
E enxugado com o tecido
Onde bordo essa poesia.