A DOR DO DOMINGO
O Domingo,em busca de aventuras,
Saiu pelo meio da rua
A procura de um rabo de saia
Num descuido do velho Tempo
Driblou as horas, os minutos, os segundos
Deu uma rasteira no mundo
Na lógica do pensamento
E a primeira dama faceira
Com quem esbarrou,
Na esquina, foi a Segunda-feira
Hesitou pois aquela
Vizinha era tão mal falada
Mas era noite de lua
Precisava de uma namorada
Para reabastecer a alegria naquele momento
Brechou pela janela dessa senhora
Com medo das tristezas
E angústias que encontraria
Mas que susto tomou com a beleza das horas
Que invadiam aquele espaço
Ela estava tão ávida,
De olhos brilhantes
Até mesmo formosa
- Como pode?
- Sempre disseram que a Segunda-feira era cheia de dor!
Ficou confuso por que tanta alegria
Nos olhos daquela velha calejada
Que nunca recebera rosas?
Até que percebeu no canto da sala
Meio tímida, calada,
Uma encantadora Flor
Que alheia a tudo que se passava
escrevia poemas para algum amor
Era isso: a Segunda-feira estava apaixonada
Tudo agora fazia sentido
perdera todo o seu mau humor
Essa constatação fez o maior estrago
Naquele abelhudo
Voltou para casa sem graça
Revoltado, carrancudo
Morrendo de inveja da felicidade das duas
Desejando amargamente
Aqueles olhos tímidos,
Seus versos para escrever na lua
Ah, aquela Flor de lis
Se ela foi capaz de acabar
com a tristeza da Segunda-feira
o que não poderia fazer com a sua?
Imaginava que raios de felicidade
Não traria aos seus dias
Daí em diante só nasceu nublado
Com um nó na garganta,
Chorava desconsoladamente
De inveja do dia seguinte
E de saudade dos olhos da Flor
Que se recusava enfeitar
Pelo menos suas tardes
Quando é tão aguda a dor
Talvez por julgá-lo vagabundo
Só viver de farras
Já que o trabalho é pouco
Até a presente data
A única notícia que tenho
É de que ele permanece doente
Como nunca, sofrendo de solidão
E a verdade é que Ela, a Flor, ignora
O quanto esse pobre coitado
Também necessita dos seus carinhos
E não faz ideia do tamanho da dor
que agora habita em coração.