EU-OBJETO

Hoje eu desejo ser

qualquer objeto

no qual você encoste

Tua toalha, o teu vestido

teu copo d’água, o teu teclado

Só pra sentir teu leve toque

que desliza por vezes

até mesmo naquele

livro ainda não lido

mas que não sabes por que

não o colocas na estante

como se ele trouxesse

a tua senha do mundo

com pequenos choques

Queria andar perdida

Por tuas mãos

Teu violão pra você dedilhar

Teu perfume mais vagabundo

Até mesmo a pedra pra você tropeçar

E perceber minha clemência

Mas fazendo jus

a terceira lei de Newton

Já que não necessariamente

A poesia exclui a ciência

Cada toque que você me desse

ainda que acidental

Eu não ficaria inerte

Sentirias loucamente a minha ardência

E talvez não entendesses

Como um objeto

Pudesse ser tão quente

E modelado por um amor tão louco

E um desejo tão carnal.