O PERDÃO DA PRIMAVERA

Quando a Primavera briga com o Verão

E o expulsa de casa

Sem ter pra onde voltar

Ele faz um triste serão

Onde a chuva é musa desejada

É tanta amargura que se espalha

Com tamanha violência

Que os olhos verdes do meu Sertão

Perdem logo a cor, o brilho

Seca como os que enterram um amor

Vão-se a Maria, o João, a branca asa

Ficam apenas a dor da caatinga

Que fotografa todo funeral

E a morte com sua olência

A desperfumar tudo que era flor

Ele, o Verão, todo em brasa

No seu inferno conjugal

Instala-se na imensidão do agreste

Com mala, cuia e arma na mão

Como um cabra da peste

Atirando seus raios de fogo

Sobre tudo que é vida

Paisagem infernal

E o Sertanejo se ajoelha

Implorando pelo inverno suprimido

Cansado dessa longa espera

Suplica à virgem Aparecida

E a todos os santos

Dos homens sofridos

Que voltem os dias de glória

Com o perdão da Primavera.