rapsódias ( em sol)

Minhas pernas

Me obriga a andar

Subo ruas e desço

Mar. Eu sigo apenas

Estrelas;

O sol é uma conquista

A solidão é minha

Corda prima, meu

Celeiro de rimas;

Os amores, eu

Os guardo como tédio

E daqueles, deles

já não os quero;

Vivo o presente grave

De madeira e ilusão

Não se pode limpar

Pelo pouco, gratidão

Mas eu me desapareço...

(Quando do que vejo

não me abasteço;)

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A flor que vi na praça

Tem jeito de flor,

Daquela praça

Que te conheci

Perto da igreja!

Você tem gosto

De flor, daquela

Flor que vi, naquela

Praça da igreja!

Você tem jeito e cheiro

De flor, daquela flor

Que vi, lá na praça,

No meio de suas

Pernas....

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Embrasado

O silêncio é verde

E de caramelo. É triste

E agonizante, mas tem

O hálito do amante...

íntimo e cru,

Solidão parca

Abrasada soleira

“E a tarde é berra

como um animal feroz”

Vem, sol ! do alto

Da serra, vem ao

Meu encontro, e

Me abraça “poeta”.

Beba esse vinho

Comigo, beba

Essa cachaça sorrindo!

Acenda o meu cigarro!

Vamos dançar pelos

Cantos do mundo...

Saltar a janela e viver

Na rua da colheita

E a cada mulher um

Sorriso, a cada beijo

Um alívio...

Pois se é pra sonhar

Que sonhemos direito!

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A coisa amada

Uma mulher passando curto,

de vestido branco, Bolsa preta

Atravessou a rua,

Acompanhei suas pernas

suas mãos, barra do vestido

Delicado e maleável.

o vento lhe soprava e a roupa

lhe respondia em aceno

Na calçada já, antes de entrar na ótica

Ajeitou o cabelo

Como se prendesse a coisa amada...

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a coisa inteira

Se tiro o verde da folha

Se prossigo e excluo seu

Veio, se excluo sua forma

Folha, o que fica da folha?

Se excluo o azul do céu,

Seu sol, sua lua noturna

Se excluo suas nuvens

De prata, seu infinito

De sonhos, sua sensação

De bruma? Será um céu

Que se acostuma?

Tem coisa que não

Se tira da coisa, porque

É da coisa mesma. E se

Eu fizer isso, não posso

Guardar a coisa, a coisa

Como ela inteira

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sino rendado

Sinto rendado

O beijo que da boca estralava tremia

A língua e dobrava, rumava de gosto

Azedo a folha que da árvore roubava

E surgia do vestido curto, o raio que

que vazava em curto , e mordia a carne

apertada, o fogo que das pernas roncava...

E entrava no escuro molhado, o talo que

a vida lhe dava. eu ouvia do quarto,

o grito de sino rendado

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texardermia

Congelado, paralisado,

Olhos estatelados, corpo

Sem o sangue, desidratado,

Coração ausente Sem a carne

pulsar, sem vida, portanto

sem dor...

Assim... um rato na estante,

olhos abertos, de pé, morto,

palha, Empalhado, um vazio

entretanto, uma forma...

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um janela qualquer

A cidade está

Rodopiando sobre

Tua boca, sobre

Tua pele de susto

Nesse teu olhar

De ambrosia

E tua boca tem

gosto de caldo

da cana E de

melancia, (...)

e sem querer

forçar, e espero

Que me perdoe

seus peitos

pequenos mexe

tanto comigo

“me dá uma agonia!”

teus lábios frescos

melancolicamente

não fala de amor.

Mas quando os vejo

Acende meu dia;

Não quero o amor

(...)

Quero sim, tuas

Pernas em arco

Tuas unhas afiadas

“quero o mar bem

revolto e as ondas

estouradas ...cuspindo

todo o branco do mar

na areia ressentida

quero sim

a vida latindo

e tua boca

berrando aquelas

palavrinhas...

Quero a vida

Que se come

Que se gosta

Quero a vida

Boa, não uma

Vida de lorota

eu Quero mudar a

Geografia...

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A Cura

De noite na porta do bar

Um bêbado

Olha uma estrela...

E sara.....

A folha invísivel

Nas trevas do bosque, folhas já crismadas

Filhas do tempo e da esperança

Quer viver.

o vento lhe balança, o chão lhe convida.

o céu lhe cobre de azul, o pássaros pretos piam

um som desbotado

Dentro do mesmo bosque numa cadeira branca

Uma senhora sentada tece uma renda de flores amarelas.

Esse mundo lhe invisível ela não conhece a folha

que vai desaparecer.

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Tenho medo do mar

Seu beijo é

Fundo , e minha

Alma é pouca

Meu medo é grande

Eu não mergulho

No mar...

Então, morena,

De pernas Compridas

De pele queimada

Que arde na vida

“Não vai dar pra te amar ,”

Seu beijo, é fundo

E minha alma pouca

Eu tenho medo do mar

Morena alegre

De corpo manhoso

De jeito dengoso

Que saltitou na vida

E foi fundo no mar

Eu não mergulho

Tão fundo, morena

Tenho medo do mar

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Que noite é essa?

Não era assim

Que eu imaginava

A noite:

(Em plena luz do dia! )

na praça, no

corredor do trabalho

e na janela clara;

embaixo do sol.

ela vem e me esmaga!

( que noite é essa

que nunca dorme? )

escura, densa e disforme

que por mais que eu

a prenda, ela incha e

quase explode

quem sou eu, esse

claro ou essa noite

que me pesa; será

ela que ela existe

ou é algo que desprezo?

em plena luz do

dia, a noite, antes

noutro horário, me

faz companhia,

quanta horraria!

Alex Ferraz Poti
Enviado por Alex Ferraz Poti em 14/03/2013
Reeditado em 04/04/2013
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