Não se pesa
Carne por carne não se pesa o sangue,
Porque já disse o outro a carne é fraca,
E se tão fraca carne me sustenta langue,
Um mangue me deixa todo o corpo em craca.
Sujeira por sujeira não se pesa o pó,
Inda mais quando o chão se varre,
Me agarre agora ou fico só,
Pois só fico sem quem me amarre.
Sentido por sentido não se pesa a letra,
Principalmente quando não é poesia,
De cortesia, folhas brancas letra preta,
"Treta é arrumar trampo nesse dia-a-dia."
Noite por noite não se pesa a hora
Porquanto for madrugada
Pois nada obrigar-me-á a ir embora
Por aí afora, sem lenço, documento, sem nada.
Alegria por alegria não se pesa o sorriso
Sujeira por sujeira não se pesa o pó
Sentido por sentido não se pesa a letra
Pois nada obrigar-me-á a ir embora só.