NOITES FRIAS (EC)

Fechadas as janelas

Proteção num agasalho

Água quente nas panelas

Tapetes no assoalho

Ao som da trovoada

Acordo de madrugada

Falta-me calor

Nas juntas sinto dor

A cabeça protegida

Em contrapartida

Nos pés cadê o cobertor?

Enlouquece esse clima

Frio na cabeça ou nos pés

Protejo em cima,

Embaixo esfria

Chocolate e cafés

Nada de me esquentar

Ameaço ter um surto

Melhor esperar o dia

Cobertor novo comprar

Cuidar não seja curto

Não consigo adormecer

Sem calorzinho que acalente

Pra que preciso tanto frio?

Assim não há quem agüente

Procuro algo pra fazer

Na TV noticia passa

Congela pior desgraça

Enchentes à beira rio

Escorre encosta em morro

Filas no pronto-socorro

Ruas cheias de mendigo

Faço que não é comigo

O meu frio tem solução

Tomo mais um licor

Ponho luva na mão

Se espirrar, tenho doutor

Ricos reclamam de crise

Perdas do dia na Bolsa

Onde à noite na marquise

Num cobertor de aguardente

Se escondendo do vento

Colados gente com gente

Pedindo que lhe ouça

Diminua o sofrimento

Uns com muito dinheiro

Calefação, aquecedor

Outros gelam em pardieiro

Dividindo só a dor

Seu destino sombrio

Sem porteira, hoje global

Mundo velho parece normal

Espalhado formigueiro

Humana chaga, esse defeito

Qual remédio à praga antiga

Que sempre cresce e castiga?

Miséria, mortal vírus febril

Alguém responda, por favor

Será que um dia terá jeito

De esticar o cobertor?

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Cobertor Curto

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 01/10/2012
Código do texto: T3910153
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