NOITES FRIAS (EC)
Fechadas as janelas
Proteção num agasalho
Água quente nas panelas
Tapetes no assoalho
Ao som da trovoada
Acordo de madrugada
Falta-me calor
Nas juntas sinto dor
A cabeça protegida
Em contrapartida
Nos pés cadê o cobertor?
Enlouquece esse clima
Frio na cabeça ou nos pés
Protejo em cima,
Embaixo esfria
Chocolate e cafés
Nada de me esquentar
Ameaço ter um surto
Melhor esperar o dia
Cobertor novo comprar
Cuidar não seja curto
Não consigo adormecer
Sem calorzinho que acalente
Pra que preciso tanto frio?
Assim não há quem agüente
Procuro algo pra fazer
Na TV noticia passa
Congela pior desgraça
Enchentes à beira rio
Escorre encosta em morro
Filas no pronto-socorro
Ruas cheias de mendigo
Faço que não é comigo
O meu frio tem solução
Tomo mais um licor
Ponho luva na mão
Se espirrar, tenho doutor
Ricos reclamam de crise
Perdas do dia na Bolsa
Onde à noite na marquise
Num cobertor de aguardente
Se escondendo do vento
Colados gente com gente
Pedindo que lhe ouça
Diminua o sofrimento
Uns com muito dinheiro
Calefação, aquecedor
Outros gelam em pardieiro
Dividindo só a dor
Seu destino sombrio
Sem porteira, hoje global
Mundo velho parece normal
Espalhado formigueiro
Humana chaga, esse defeito
Qual remédio à praga antiga
Que sempre cresce e castiga?
Miséria, mortal vírus febril
Alguém responda, por favor
Será que um dia terá jeito
De esticar o cobertor?
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Cobertor Curto
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