A Ponte ( Prosa Poética )
A pequena ponte, orgulhosa da sua serventia, mais uma vez viu-se em polvorosa submersa nas águas barrentas da enchente daquele março.
Era uma prancha de peroba-escura marcada pela inclemência do tempo.
O solitário constrói paredes, o solidário constrói pontes.
Mais que uma simples ponte, era um elo que unia duas geografias além de encurtar o caminho de muitos transeuntes.
Estava ali já há muito tempo.
E na quietude, ela ouvia sempre a mesma lábia sedosa do riozinho que passava lento, ornado de peixinhos e desfiando uma longa e colorida cabeleira de Diesel.
À noite, a sua travessia não era aconselhável. No breu, somente o sereno cabia tocá-la. ou a lua cheia. Porém, naquele distante março, as águas vieram mais atrevidas, mais escandalosas.
E quando as águas baixaram, somente um vão em seu lugar. Rolara riozinho abaixo!
A pequena ponte horrorizada, como num poema de Vicente de Carvalho(a fonte e a flor), bem que implorou para que não a levassem. Lutou ferozmente, porém, fazendo-se de surdo, o caudal turvo com seu sorriso sádico a ignorou.
Dizem que meses depois ardeu durante três dias num arraial distante dali numa festa de São Pedro!
Eis a ponte entre a terra e o céu!
José Alberto Lopes- SBC. 03/07/2012