Ode à noite

Eu te penetrei com ardor e pranto

e durante a tua dor

eu te fecundei com o meu olhar calmo...

És a fêmea dos poetas,

que fazem amor contigo

nos recantos escurecidos pela tua tristeza...

Sofres a tua dor,

angustiadamente silenciosa,

como uma rainha

a quem despiram o manto...

Só balbucias poesia aos meus ouvidos,

que transmitem lágrimas aos meus olhos

e tremor às minhas mãos,

que te escrevem a beleza e o mistério...

Mudo, fico te olhando morrer

e beijo a meia-lua dos teus seios

e toco sinfonias nas tuas teclas cinzentas,

de solidão e penumbra...

Emocionado,também me dispo perante o teu olhar

e envelhecido pelo esforço de te amar,

faleço ferido fatalmente pela aurora...!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 09/02/2007
Reeditado em 18/02/2021
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