EU DE PAPEL

Quando penso e não digo: escrevo.

E o medo de repente se transforma, veste a capa, vira coragem

Quando minha dor se camufla em sorriso: escrevo.

E a realidade é negra e crua na minha página, mas é a verdade, é o que sou.

Então a liberdade me toma pela mão e juntas percorremos campos de trigo.

Conquistamos montanhas e vales distantes, com a ousadia dos loucos, a confiança dos reis.

Somos irmãs nessa missão: desbravar coisas, abstrações.

Trazer a tona o coração.

Quando me escondo e não brilho: escrevo.

E a luz no fim do túnel se torna um clarão, e cega, dilata pupilas em luz.

E saio da caverna, como sou: borboleta sem casulo e voo.

Quando posso e não faço: escrevo.

E o desejo agora é concreto, escada para o fim que almejo.

Então uma parte de mim já não morre.

É resultado em movimento.

E na penumbra que eu vejo, que o mundo vê.

Eu vejo o sol lá de dentro.

Quando sou e não existo: escrevo.

E me revelo de repente, como nunca me viram, como nunca sentiram.

Assim, transparente sem nada a perder.

Completa e vazia.

Pronta pra ser.

 

Susana Torres
Enviado por Susana Torres em 16/06/2012
Reeditado em 04/03/2022
Código do texto: T3727801
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