ASSASSINO DE PÁSSAROS (autobiográfica)

ASSASSINO DE PÁSSAROS

(autobiográfica)

A rima se perdeu no zinco,

A chuva tamborila no metal.

Eu e o amigo de infância,

Que vive apenas na lembrança.

Estilingues no pescoço molhado,

Paiol com cheiro de roça,

Galhos de jurubeba na janela.

Dois pré-adolescentes caçadores,

Molhados como os marrecos.

Na goiabeira pousa o bem-te-vi.

A jurubeba no estilingue,

Na mira a certeza de errar,

Um lance na fração do relâmpago,

Torno-me o assassino de pássaros.

Morto em minhas mãos à ave.

Fogueira na lata e como seu corpo...

Morte não pode ser desperdiçada,

Nasciam asas em minhas costas,

Uma ferida aberta na minha alma...

A vitória me deixava aborrecido e cansado...

Tacar fogo em tudo e fugir.

As aves se movem solitárias e me perseguem,

Como move a flechas me acertam

Levando-me a outro mundo.

Sou agouro da morte, sou coruja branca.

Após o banquete de bem-te-vi,

Enterro dos restos mortais.

No bolso bola de gude e lanterna

No outro, penas que me acompanham.

Fantasmas por todas as partes

Escutavam a taquicardia do meu medo.

Na face sob a chuva a lagrima...

Matar é cruel!

Não compensou o titulo de atirador...

Não compensou o titulo de caçador...

A poesia não tem rima...

O amigo e o bem-te-vi estão enterrados...

Sobrou a lembrança vergonhosa...

Restou o humano com asas imaginarias...

Restou a poesia sem rima...

André Zanarella 31-10-2011

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 18/04/2012
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