Bendito

BENDITO

Louvado seja Deus, meu senhor

Por que meu coração está cortado a lâmina

Mas sorrio no espelho ao que

À revelia de tudo se promete;

Por que sou desgraçado

como um homem tangido para a forca,

Mas me lembro de uma noite na roça

O luar nos legumes e um grilo

Minha sombra na parede.

Louvado sejas por que eu quero pecar

contra o afinal sítio aprazível dos mortos,

Violar as tumbas com o arranhão das unhas,

Mas vejo a tua cabeça pendida

e escuto o galo cantar

Três vezes em meu socorro.

Louvado sejas, porque a vida é horrível

Porque mais é o tempo que eu passo

Recolhendo os despojos

- velho ao fim de uma gerra como uma cabra -

Mas limpo os olhos e o muco de meu nariz

Por um canteiro de grama.

Louvado sejas por que eu quero morrer, mas tenho medo

E insisto em esperar o prometido

Uma vez quando eu era menino

Abri a porta de noite

A horta estava branca de luar

E acreditei, sem nenhum sofrimento:

LOUVADO SEJAS!!!!

-Adélia Prado-

-Assisti a entrevista de Adélia Prado :tocante!Chorei junto com a platéia ,quando ela leu esse poema.

Ela chorou também e a emoçao que tocou a todos foi forte,poderosa,inesquecível.

Maria Neusa em abril de 2012

Adélia Prado
Enviado por maria neusa em 17/04/2012
Reeditado em 17/04/2012
Código do texto: T3617534
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