REFÚGIO

Ando como um lunático,
De canto em canto,
De entanto, em, entanto,
Nos oníricos prados,
Da existência,
Ignorando os sinais,
De advertências,
A possível permanência,
Do pecado.
Ando como um mentecapto,
Pelas marginais,
Alma calada, cinzelada,
Sonhos perdidos, rupturas,
Noites escuras,
Vida enviesada,
Envolta em um triste fado,
Em momentos desolados,
Travo uma luta dentro do ser,
Desejo acontecer,
Me atrevo,
Olhar para o céu,
Para o véu da imensidade,
Mas, me sinto submerso,
No mar da agonia.
Pego então, caneta, papel,
Tremulo, escrevo,
Tento enganar o sentimento,
Com alguma poesia,
Me lanço por ela adentro,
Me refugio,
Na simplicidade dos versos,
Que eu mesmo crio,
Um poeta em delírio,
Na absurda densidade.


- - - - - - - - - -

Em meio as pradarias
 de concreto e asfalto,
 ao som de monstruosas
 máquinas e motores,
 definha-se a natureza,
 perde-se a beleza,
 morrem as flores,
 extinguem-se os amores...
 E entre uma réstia
de saudade
 e um suspiro,
 resta a poesia,
 como último refúgio,
 tudo o que preciso...


(Ana Flor do Lácio)