Vou-me Embora de Miguelópi.

Vou-me embora de Miguelópi...

Lá sou inimigo do rei...

Lá não tenho mulher e nem quero-quero...

Nem cama, bem-te-vi, eu sei se tem...

Vou-me embora de Miguelópi...

Vou-me embora de Miguelópi...

Lá a persistência é uma loucura...

De tal modo demente...

Que Antonio o louco canalha das savanas...

Delirante escritor doente...

Vem a ser testemunha do processo que vem a galope...

E como farei ginástica...

Andarei de bicicleta...

Beberei no boteco da esquina...

Subirei o Morro da Cabeça do Boi...

Tomarei banhos de Rio Grande...

Se o povo bisbilhota...

Por não ter nada a fazer...

Por não ter nada a dizer?

Um povo tão idiota que a idéia se esvai...

Antes mesmo de se tornar idéia...

Em Miguelópi não tenho nada...

É o cu do Mundo...

O fim da civilização...

Não tem esterilização...

Não tem educação...

A saúde é obra rara...

E todo mundo...

Cheio de alcalóide...

Ouvindo os batuques do automóvel...

O disse-que-me-disse das matreiras nas esquinas...

Pede arrego para falar da vida alheia...

Vou-me embora de Miguelópi!

Vou-me embora de Miguelópi!

Não quero ser otário...

Nem pau-mandado...

Não tenho intentos vis...

De canalhas safados...

Lixos e desvios de verbas...

Não quero ver sangue nos jornais...

E nem favorecimentos ilegais...

Por isso vou-me embora de Miguelópi!

Vou-me embora de Miguelópi!

*Miguelópi é um país fantasioso, a nação corrupta e infeliz, o inverso da “Pasárgada”, de Manuel Bandera.

SAvok OnAitsirk, 31.03.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 31/03/2012
Reeditado em 31/03/2012
Código do texto: T3586574
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