JOIA BOREAL (Parte III)

Então, como se o hórrido passado tivesse das cinzas retornado

O aposento da menina é tomado por cenas sangrentas, brutais

Ela vê sucumbir todos os membros da Casa do Antigo Reinado

Pelas mãos do bruxo, disfarçado dentre os mais amigos mais leais!

O palácio da família exterminada tornou-se um repugnante covil

Onde o traidor ocupa um sinistro trono, num sadismo odioso

Feito dos ossos dos ancestrais da jovem, para que o nigromante vil

Nele se refestele, a rir-se ironicamente de seu feito tenebroso!

“Deves agir rápido, minha filha”, orienta a doce Rainha de outrora

“Logo ele surgirá para consumar o sortilégio, assim como a tua morte

Na última Lua Negra completarás quinze anos, mas a radiante aurora

Que se seguirá é a da tua libertação e de nosso povo, a da boa sorte !

Esta é a profecia, recorda bem, guardai-a no âmago de teu ser:

‘A joia considerada perdida retornará coroada pelo esplendor nascente

O rubor que preludia o Sol é a púrpura de seu tão esperado renascer

Impoluta, restituirá o sangue derramado e trará paz aos viventes!’

“Mas para isso”, diz a mulher, “Precisas fugir, pois ainda há tempo!

Salvarás tua vida golpeando o monstro em seu execrável coração,

Porém não se encontra no peito o viscoso e repulsivo órgão cinzento

E sim dentro de um peixe negro, com olhos que reluzem na escuridão”.

Assim falando, a Rainha Mãe descansa no peito da adormecida jovem

Delicado punhal de trabalhado cabo de prata, arma belíssima, singular

“Descendentes das Valquírias somos, ferir-nos os inimigos podem

Mas a chama imortal em nossas almas, jamais poderão apagar!”

Luminosa e branca lágrima, em dor e carinho a linda sílfide derramou

Na face daquela que sobre si carrega tamanha responsabilidade

Mal a incrível aparição se desvaneceu, a jovem assustada acordou

Segurando o punhal entre as mãos, disse: “Sem dúvida, é realidade!”

Continua...

Anankhe
Enviado por Anankhe em 12/03/2012
Reeditado em 26/03/2012
Código do texto: T3550428
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