NOITE SAUDOSA
À noite, que na Terra se assenta mansamente,
Com seu silêncio sombrio, pálido e acolhedor,
A escuridão profunda e impávida que a tudo cerca,
Invade o âmago de minha alma com sentimentos nus.
Nos seus braços negros, de ilha torno-me mais ilha,
E meu ser se encanta escondido da luz, em reflexões mágicas,
Saudosas, insanas e torpes talvez, como a própria noite,
Que em sono bruto, do homem indigno, rouba a luz e a razão.
Estou no coração da noite densa, com o olhar descobiçado.
Nem triste, nem alegre, apenas um olhar no reino sem palavras.
E de que valem as palavras contidas nos discursos dos homens,
Ou nas doces juras de amor, proferidas pelas donzelas?
Neste silêncio ansiado durante o dia, que agora reina supremo,
Sentindo o vento constante e suave a tocar meu ser enudecido,
Dissolvida entre os desvarios todos, surge em minha mente aquela mulher
Trazida pelo cheiro da dama-da-noite florida sob a qual me sento.
Imagino onde estará à bela se abrigando do abraço negro da noite.
Na lembrança, aprimora-se a vontade de tê-la novamente em meus braços,
E, num lamento silencioso, sinto sua presença na saudade que me invade,
Em forte fulgor, como as estrelas que agora atiçam o firmamento.
Acesa a chama pela lembrança embriagadora da minha amada,
Em um suspiro de lamento, preencho-me também da escuridão da noite,
Em busca do esvaziamento e do remédio para a dor da perda eterna
Da linda mulher, que agora deve estar repousando em outros braços.
Péricles Alves de Oliveira