ANOITECER

Sem traços ou manchas, o céu se apresenta limpo em toda sua abobada,
Quando se levanta imponente o entardecer, avermelhado no poente.
Nos jardins, sente-se o cheiro das flores de diferentes espécies e cores,
E com o olhar cobiçado, contemplam-se as belas donzelas que passam.

O dia, que fora nebulosamente claro demais, aproxima-se de seu suspiro final,
Em tão belo espetáculo que invade meu íntimo com fragmentos de vidas,
Minhas e de outrens, em lembranças dos momentos vigorosos outrora vividos.


E sentimentos, agora fúteis e fugazes, brotam em meu ser, já combalido pelo tempo.

Embriagado pela tresloucura que de mim teima em se apossar, do mundo fugidio,
Contemplo o prenúncio na grande noite, clara, quente e morta, com sua bela lua.
Redonda, com um pouco mais se encheria diante do escuro e vasto céu estrelado,
Onde os poetas sonham seus versos, os loucos choram e os namorados juram seus amores.

Num átimo ficou noite. Mais noite em mim. Ninguém viu nada senão eu mesmo,
E o cão que perto espreitava e pressentia o momento de as cortinas se fecharem,
Quando o mundo me fugiu por derradeiro, e minha ilha foi tragada pelas fortes marés.
Agora já quase nada sou. A vida de antes se transforma em pesadelos, assombros e dores.

O vazio que se sobrou também era prenúncio de outra noite mais densa, mais negra,
Mais vazia, sem cheiros e flores, sem luas e estrelas, sem poetas, sem donzelas, sem nada.
Meus olhos fazem o último contato, vulnerável estou, em passagem de noites,
E sob o olhar do cão vadio, meus olhos se fecham, e meu mundo se esconde em cortinas eternamente fechadas.


Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 31/01/2012
Reeditado em 19/08/2013
Código do texto: T3472309
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