Gurupá de São Benentônio Canto II

Gurupá, Dezembro de 2008.

São Benedito, olha por nós

Devota que sou, que sou a pedir

Tira-me o encosto, retira os nós

Daquela maldita, marido a fugir!

- Ó, minha filha

que pensas?

Eu vejo o absurdo

que fazes

com teu esposo

não pode nem o homem

jogar bola!

Repreende-o

Escroteia-o

briga por toda a parte da casa

alcunha de mole a ele tu oferece!

Só podia fugir.

E por tal eu digo sem pena

Verdade que vejo, só posso apontar

Humilha teu homem, futuro acena

De mulher sozinha, as coxas juntar.

São Benedito, olha por mim

Um homem de bem, piedoso que sou

As preces eu faço, as contas sem fim

Comércio quebrado, falência que vou!

- Escuta macho

já via tua laia

engana os outros

vende unidade

com preço de caixa

de caixa

caixote

de fósforo molhado

farinha bolenta

conserva amassada

ninguém compra

e tu choras.

E agora eu falo sincero

Tu deves, os cheques voltaram

Maldade que tinhas, espero

Pobreza te estar, pra outros mostraram.

São Benedito, ó negro, bondoso que és

Santo Antônio, ó branco, me ouve momento

Me ajuda, eu juro, atiro-me aos pés

Me arruma uma coisa, quero casamento!

- Ô moça espivitada.

- Tu é doida ou o quê??!

- Te acalma.

- Enxerida!

- Tua hora chega.

- Toma teu termo!

- Balança a saia.

- Que nada! Reza três terço!!

- Achamos ser o teu acalanto

Amigos, vontade do bem a fazer

- Casa bem virgem, uns trinta e tanto!!

- O que importa é na hora o amor envolver.

Ó piedoso Benedito, te faço ofertório

Ainda bem que sou um senhor fiel

Um cabra de nome, de modo notório

Eu bem que mereço um lote no céu!

- Ofensa!!

- Blasfêmia!!

- Um caboclo que reza

mas pisa fora da igreja

tá fuxicando

da vida

da morte

de tudo

- Todo alinhado

coração de pedra

dá cascudo em menino

que caiu no quintal

tirando manga.

- Senhores nós somos do que passa na Terra

- Por mais que se tente os crimes encobrir

- A hóstia não gera a paz, nem a guerra

- Mas diz que cristão é querer construir.

Me falem, ó Santos, me fala Antônio

Aconselha-me, por favor, São Benedito

Da morena eu tenho calmo matrimônio

Mas a branca me atiça aquele, o dito!

- Sem vergonha! Mulherengo!

- Peraí Antônio, eu digo.

Pecador,

depois do bem-bom

me fale:

quem lava tua tanga?

Cuida da tua moleza?

Te bota comida no prato?

Perceba!

- Salomão pede pra eu te falar:

“ama a senhora da tua juventude

tão linda gazela, um zeloso olhar

o riso confiante, no deserto, açude!