Chovia nos olhos de Luzia

Breves, maio de 2007

Vão na canoa a mãe

A filha

A avó, a pirralha

A cria

E remando à noite

Implorando

Se humilha

Esmolando um pão

À míngua

Balançando as mãos

Que pediam

O assombro, o escárnio

Ouviam

Jogando ao rio o resto

De si, valia

O que não servem a mim

A ti, vazia

E a garota na proa

Empilha

A vergonha

As bolachas

A vasilha

É lindo o limo

Pra maresia

Bem melhor

Que este indigno

Das vias

Mendigando no casquinho

No escuro

De dia

Desviando o natural

Da trilha

O imundo disforme

Sugeria

Pra uma saia abaixada

Agia

E as mulheres rezavam

Para Luzia

A santinha da luz

Que via

Se esvaírem pro limbo

A alegria

Então chorava

E nas cabeças

Chovia.