Quando Mortos

"A decadência não é outra coisa senão o

instinto tornado impuro pela ação da consciência."

Emil M. Cioran

Sangra agora o meu peito

Como outrora sangrou

O de Cristo:

Deus morto, vida nova.

Ruínas do paraíso,

Orgia nos jardins do céu.

Quebro meus ossos.

Imundo, percorro-te o corpo.

Foge-me à garganta

Este uivo de fome,

Brado seco de um ser

Que esquece as origens,

Apátrida a quem

Tudo parece inimigo.

Acaba a cada segundo o

Tempo. Soletro a palavra

Morte, sem dor e em paz.

Canto a palavra morta,

Sepultada em papel:

Veneno fatal. Melancolia

É saber do fim e, no fim,

Ver a boca roçar

O falo do mal.