DESEJO MAIOR

É verdade sim que já fui céu.

Tive cor de vela à luz escura.

Norteei em mim momentos mais do que preciosos.

E de tão inconstantes que foram, acabaram devassados por letras.

E você sempre os leu.

Mas e daí?

De que adianta, lembrar agora, se ainda tenho um sabor nervoso.

Que ignoro mais do que invoco. E mesmo assim teima em enlevar-se.

Percebo que em meus olhos não têm mais o brilho, difuso, que admiravas.

Estão cansados de vôos longos, e ressecados pelos ventos do leste.

Meros versos que ainda me confortam...

Sinto que as palavras, ao menos, me vestem de cor e criam sons no vazio.

Mesmo inaudíveis e sem contraste aos ouvidos e olhos mais atenciosos.

São nítidos e sensíveis aos teus olhos de paixão e serenidade.

Que falte fé.

Que falte a vida, a mim.

Mas teus olhos e mãos, não!

Eles sempre acabam sendo o meu único refúgio entre as vírgulas e pontos.

Desta felicidade caída e intocada.