Quase Manifesto Tardio
E atenção:
Aperta o cerco aos poetas.
Em todas as praças do mundo
Versos revoltosos resistem
Aos anacrônicos léxicos
Da poesia de fraque.
Querem agora destaque
Ao seu virtual sem sentido
Como um legítimo filho.
Por toda parte
Grafiteiros se amotinam,
Versos de reverberação estrondam
Rompendo tímpanos assépticos
Pela língua saneada.
Versos em vendavais de sígnos
Já não querem o som da rima
Mas o dom da fala escrita.
Todo o céu escureceu
Com a fuga das estrelas
Que emprestavam o seu brilho
Aos poemas de alfazema
Feitos sob luz de prata
Por amantes pasmacentos
Dos saraus de fino trato.
Versos cheirando a cachaça
Fazem rimas às avessas
E seus risos são escárnios
Ao inútil bom poeta
Que procura em mar de lama
Pela poesia branca
De sintaxe refinada.
“ Poesia é punheta
Estética ao menos no gozo!”
Manifestos polifônicos
Legitimam a nova ordem:
“ Desprezo ao parnasiano
Desprezo a quem quer o passado.”
A última flor do lácio
Foi outrora inculta e bela
Hoje desbota à janela
Suas pétalas de acetato.
O barroco pós-moderno
Fala às misérias de rua
Em discurso assimétrico.
Usa às vezes redondilhas,
Às vezes palavra crua
Sem qualquer sinestesia.
Fala aos porcos de avenidas
Fala aos ratos de marquises
Fala também aos molambos
Fala também aos faquires
Fala, fala, fala...