Há um pedaço de mim
Perdido
No jardim
Entre flores que não desabrocham
Sob o vôo de pássaros mortos.
Quem me dera o breve bater das asas
Me erguesse
Me levasse
Deste deserto para casa.

Há um pedaço de mim
Dependurado na janela
De onde víamos um horizonte.
A janela não mais retrata
A esquecida paisagem
Que a onipresente noite
Apagou em mim.

Há também outro pedaço
No vazio irracional desta permanência
Muitos outros, ainda
Desencontrados
Essencialmente esfacelados
Pela voz que emudece sua ausência.

Há um pedaço que queria achar!
Aquele em que sorri o riso
Dos dias despreocupados
Alegre acordar...

Mas que fazer?
Agora se faz tarde!
Este redentor pedaço
Não o acho
Não existe mais...

Perdeu-se, é exato
No descuido dos gestos sem perdão.
Há um pedaço de mim
Sim
Talvez a trêmula mão
Que busca a sua às cegas
No breu deste insepulto coração.