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Eu Sou Belém!
by Betha M. Costa
Sou grande parte da paisagem,
Chuva fina das duas da tarde,
Quem vê Santa de passagem,
E reza com fé e pouco alarde.
Tenho um pouco de marajoara,
Perfume das ervas mal colhidas,
Cachos de frutas multicoloridas -
Ver-O-Peso, açaí ou juçara!
Trago nas veias água barrenta,
Do Rio Guamá e do mangal,
Da Escadinha sou vestimenta,
Da garça o sobrevôo habitual...
Ah, Santa Maria de Belém!
Dos morteiros barulhentos do Círio,
Envolta no manto do eterno bem,
Nossa Senhora de Nazaré é o “lírio”,
A melhor crença que o belenense tem!
BETHA MENDONÇA COSTA foi recantista de destaque por longo período e a ela a homenagem deste Caderno. Atualmente publica no site Luso Poemas.
MARCONI BARROS
Um poeta que lá do seu distante Piauí, natural da cidade de Picos, nos traz toda essa riqueza regional em forma da melhor poesia. Tão bom encontrar aqui um escritor com os pés bem firmes no seu seu chão, o qual pinta de forma inigualável.
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POUSADA DAS GAIVOTAS
Um cacho de periquitos
Anuncia a manhã
Um canoeiro
Lá longe já cursa
Para além da visão
Oito colibris
Revezando-se
Nas flores
Da Pousada Gaivotas
Sob o alpendre
No embalo pendular
Acompanho a noite
Que se esvai
Os motores e os pardais
Acordarão logo mais
Matando o pouso suave
Desta manhã
Meus olhos estão ávidos
Da Lagoa da Confusão
É virar à direita
E descer
Diante de si
O sertão pareceria
Uma grande mentira
Ou notas cartográficas
De outro continente
JUÍZO ESTÉTICO PICOENSE
Da casa paroquial à de Mané
Todos os quintais eram pomares e poleiros
As cercas de varas dominavam os muros
Mas se eram uma, a fauna e a flora
A dos homens divergia demais
Senhor, doutor, coronel
Bigode, anel, chapéu
Peão, ninguém, vintém
Enxada, chita, alparcatas
Mas na calçada de seu Isaque
Oito estivadores brutais
Com chapéus de bola de capa
Pitando cigarros
Adiantados na pinga
Entreolhavam-se e gargalhavam
Quando lá se vinha
O senhor, doutor, coronel
Dentes perfeitos
Vestido no último linho
Da última moda
Cingido pelo último furinho
Do cinto :
- Sinto muito, doutor !
- Sinto muito !
Obesidade obscena
Cem anos de preguiça
E dominação.
HERANÇA MAIA
Familiar , o milho
É o habitante tangível
Do milharal
Se verde
É colheita prometida
É o modo que
O Zea mae traduz o namoro
Do sol com a água
A terra e o suor
O Milharal que me comove
É seco
Onda dourada
Que verbaliza os ventos
Que lhe batem
Que cristalizaram
Em bagas
O milho que será
Motriz animal
Cuscuz sobre a mesa
É aquele que de tão seco
Já é semente
Um milharal
Se estando por colher
Faz o mutirão
Dos que se foram
E nem sabem
Uma vez ou outra
Terei visto meus avós
Já colhidos
Na colheita dos grãos
Página no Recanto das Letras:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?i
d=36920
.
GILBERTO CHAVES
Goiano, mora em Brasília, e ultimamente, grande parte de seus versos são criados em Parati, em sua Parati, uma pequena fazenda onde trabalha em sintonia com a natureza.
PARA APRESENTAR O POETA, EIS O DEPOIMENTO DE LILU ( Pelotas, RS) Sua página no Recanto:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=6810
Em uma das andanças pelo RL, passei por um poeta que estava em pose fotográfica muito desconsolada - Gilberto Chaves. Parei. Li os poemas que ele havia postado em suas páginas no RL. Houve imediato encantamento. Se a arte faz poesia, só o coração é poeta... Assim é GILBERTO CHAVES: POETA ! Nunca mais deixei de ler o que Gilberto cria... ele é leitura indispensável! Parabéns! Todos os nossos aplausos para GILBERTO CHAVES!
NÃO PERCA O SONO
... e a noite chia
a noite uiva
esturra a poucos metros
quebra os gravetos ao lado
respira frio
cheira medo
tudo é segredo
surdo e calado.
Ao amanhecer
vejo-me no espelho
e o seu estrago.
ESQUEÇA A MAÇÃ AMASSADA
É agora ! Cedo !
Não pode ser depois.
Não pode ser mais tarde.
Não pode ser amanhã de madrugada
Fechou-se a porta velha
cheia de trincas,
atravessando tábuas
a marteladas e pregos.
Chama-me o dia nascente
a nascer outra direção
mais longa, mais larga,
a acordar os sonolentos,
a estancar os prantos.
Maiores serão aos transtornos ...
maiores são minhas forças.
Esperam-me !...
Tem que ser agora
enquanto é cedo !
TREM
Se aqui passasse um trem
com muitos vagões
ou que passasse até sem vagões
soltando fumaça...
se eu fosse essa fumaça
esparramada no vale ,
subindo, subindo espaço a fora,
eu A veria e até ela iria
esquecendo todo o trem ,
matando a saudade agora.
SABIÁ
"Sabia lá na gaiola, furou um buraquinho
voou, voou, voou"
e eu que gostava dela, ela gostava
e não gosta mais,
voou, voou, voou.
Eu peguei minha viola
fui para minha gaiola
chorei, e choro, choro , choro.
MÚSICA
Você que canta o que tenho
sabe onde fica o que sou,
alegre meu caminho
com músicas de mãos dadas,
sorridentes, abraçados, por favor !
Página no Recanto das Letras:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=25837
ADRIANE DIAS BUENO
Gaúcha da cidade histórica de Rio Grande, uma jovem advogada e poeta, tem como traço principal a intensidade, a palavra forte e precisa e uma rara poética bordada de um vocabulário diferenciado.
TELÚRICA
Este resvalar sereno
que ocorre sutilmente como
o deslizar de um
suave riacho pela pele...
Essa fria porcelana
tão lisa e alva que,
ao tocá-la,
as mãos aquecem.
Essa seda esmeraldina,
tão delicada e intensa
quanto o oceano profundo.
Esse desabrochar límpido,
que refulge do orvalho,
ao brilhar do sol nascente,
e que de tão cristalino e tépido,
faz disparar o corcel indômito...
Sim...
Essa água que resvala...
Essa porcelana alva e fria...
Essa seda a verdejar...
Esse desabrochar orvalhado...
O que são além de
descrições baças,
de uma entidade telúrica
que faz a alma alçar-se
em dolentes quimeras?
UM BOTTICCELI
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Já viste senhor,
um anjo de Botticelli?
Não os infantes,
crianças aladas,
que nem parecem...
Mas aqueles de pele alva
olhos castanhos
lábios rubros...
Já viste senhor,
por acaso, tal primor?
Percebeste em cada pincelada
a intensidade do artista,
ao tentar, para a tela transpor,
a perfeição inexistente,
mas que buscava com ardor?
Nos matizes criados,
um ser diáfano ia surgindo,
e com uma túnica etérea,
as formas belas
parcamente encobrindo.
Já viste senhor,
Este anjo de Botticelli
Que a muitos entorpece?
Se acaso já o entreviste,
pergunto-te apenas:
"Serei eu este anjo, senhor?"
Página no Recanto das Letras:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=85076
MIRIAM DUTRA
Mora em Vitória, no Espírito Santo e se traduz assim num poema:
Quero-me gota luzente,
transparente,
embora pequena,
(porém) inteira.
E em corpo presente,
alma verdadeira.
A ANDORINHA E O POSTE
Teima,
cabeçuda andorinha,
fazer ninho
em fios perigosos
O Tempo
tempestade anuncia,
e a andorinha,
teimosa,
ignora.
Desafia a sorte.
Chove forte.
Adeus, poste.
QUADRINHAS
Segredos do bem viver
a gente bem que conhece -
um deles é ver-pra-crer,
e depois que viu, esquece.
O mal que vem, vai passar,
feito ardume de pimenta-
se insistir em mastigar
o ardume só aumenta.
Escrevo só por lazer
e não tenho intenção
de estragar meu prazer
com a minha própria mão
LÁGRIMAS DE UMA FLOR DO MEU IPÊ
Ouço teu gemido
misturado ao assobio do vento,
enquanto pétalas vencidas se desgarram
e rolam pelo chão,
sem vislumbrar destino certo.
Fecho os olhos
e relembro teus dias
aqui vividos
e pergunto,
sem esperar resposta
a contento:
Linda flor,
quem foi que te deu vida
e a tirou?
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