Sem argumento
Quando a morte me levar
Irei com grande desgosto
Se não quer acreditar
Bastará olhar meu rosto
Verás numa cara pálida
Plantada desilusão
De quem parte desta vida
Com mágoa no coração
Não é mágoa específica
Por gente da relação
A dor deveras sentida
Dói pela ingratidão
Desta morte atrevida
Que chega sem avisar
Não nos dá alternativa
Nem aceita argumentar
A mágoa agora sentida
É pela falta de sorte
Em pleno goza da vida
Dar de cara com a morte!
Não há cristão que aceite
Tal traição do destino
Estando em pleno deleite
Sentindo-se um menino
Com o futuro à sua frente
Todo aberto a lhe sorrir
E ver assim bestamente
A vida lhe sumir
E se sentir nesta inércia
Deitado neste caixão
Que nem se quer escolhi
Foi me dado de roldão
Já que não tenho escolha
Terei de lhe acompanhar
Eu não te darei sossego
Tu vai ter de me aguentar
Não irás voltar atrás?
Não vai me ressuscitar?
Não ficará um segundo
Sem me ouvir reclamar
E não estarei sozinho
Pois na terra há de ficar
Parentes, amigos, vizinhos.
Todos a reclamar
Ele era tão bonzinho...
Tão jovem!
Tão...
Morte estúpida!