De mal a pior
Eu sou poeta
Lá dos lados do nordeste,
Me chamam cabra da peste
Mas isso sei que não sou
Eu sou poeta
Lá dos lados do nordeste
Se fosse cabra da peste
Eu resistiria à dor
Mas dor não resisto não
Pois incomoda demais
Não suporto ver sofrer
Quem só quer viver em paz
Lá pros lados do nordeste
Se vê tanto sofrimento
Vê gente morrendo a míngua
Por falta de alimento
A terra já não produz
Pela seca que castiga
Tem gente em volta da cruz
Passando a mão na barriga
Em total desilusão
Por não ter o que comer
Passa o dia em comunhão
Pedindo a cristo pra ver,
A ruim situação
Em que vive aquele povo
Morrendo por não ter pão,
Carne, verdura ou ovo.
E o povo sem alimento
Sem saber o que fazer
Cai no lombo do jumento
Em busca do que comer
Andam léguas e mais léguas
Pede aqui, pede acolá.
Indo em busca sem trégua
Sem conseguir encontrar
E esta busca constante
Afasta o povo do lar
Virando matéria andante
Não consegue sossegar
Lá pros lados do nordeste
As coisas andam assim
Andam de mal pra pior,
A situação tá ruim
Mas há grande resistência
Deste povo sofredor,
Que mesmo na abstinência
Encontra tempo pro amor
Ama Joao, ama Maria,
Ama rosa, ama Antenor.
No forró de cada dia
Vão se esquecendo da dor
Eu sou poeta
Lá dos lados do nordeste
Me chamam cabra da peste
Mas isso sei que não sou
Eu sou poeta
Versos é o que sei fazer
Eu queria ter a força
Para fazer chover,
Lá pros lados do nordeste...
Para ver brotar da terra
Alimento em abundância
E ver no rosto do meu povo
Brotar denovo a esperança.