De mal a pior

Eu sou poeta

Lá dos lados do nordeste,

Me chamam cabra da peste

Mas isso sei que não sou

Eu sou poeta

Lá dos lados do nordeste

Se fosse cabra da peste

Eu resistiria à dor

Mas dor não resisto não

Pois incomoda demais

Não suporto ver sofrer

Quem só quer viver em paz

Lá pros lados do nordeste

Se vê tanto sofrimento

Vê gente morrendo a míngua

Por falta de alimento

A terra já não produz

Pela seca que castiga

Tem gente em volta da cruz

Passando a mão na barriga

Em total desilusão

Por não ter o que comer

Passa o dia em comunhão

Pedindo a cristo pra ver,

A ruim situação

Em que vive aquele povo

Morrendo por não ter pão,

Carne, verdura ou ovo.

E o povo sem alimento

Sem saber o que fazer

Cai no lombo do jumento

Em busca do que comer

Andam léguas e mais léguas

Pede aqui, pede acolá.

Indo em busca sem trégua

Sem conseguir encontrar

E esta busca constante

Afasta o povo do lar

Virando matéria andante

Não consegue sossegar

Lá pros lados do nordeste

As coisas andam assim

Andam de mal pra pior,

A situação tá ruim

Mas há grande resistência

Deste povo sofredor,

Que mesmo na abstinência

Encontra tempo pro amor

Ama Joao, ama Maria,

Ama rosa, ama Antenor.

No forró de cada dia

Vão se esquecendo da dor

Eu sou poeta

Lá dos lados do nordeste

Me chamam cabra da peste

Mas isso sei que não sou

Eu sou poeta

Versos é o que sei fazer

Eu queria ter a força

Para fazer chover,

Lá pros lados do nordeste...

Para ver brotar da terra

Alimento em abundância

E ver no rosto do meu povo

Brotar denovo a esperança.

cristovão ferreira
Enviado por cristovão ferreira em 26/02/2011
Código do texto: T2815736