Relação Íntima
Raramente o Pedro do céu abre as torneiras
Sobre a região de terra cruel e ressequida
De pedras sobre pedras onde são erguidas
Pequenos diques e ínfimas barreiras,
Com o sol a pino não tem corredeira,
A água adentra-se em pequenas rachaduras
No raso solo constituído de pedra dura
Onde o homem adquire sua canseira.
E numa fresta qualquer da pedreira
Ele vai perdendo lentamente sua estrutura.
Mas quando ele ao pé do cacto deságua
Suas lágrimas e o conteúdo da bexiga,
Para o cacto aquilo é somente água
Da qual ele se nutre e enche a barriga.
Mas para o homem que ao cacto mastiga
Tirando fora todos os espinhos em torno
Não se tocam, pois a briga é muito antiga
Oriunda de uma vida no mesmo forno,
Mas o homem sai levando sua fadiga
E o cacto fica esperando seu retorno.
Euripedes Barbosa Ribeiro
E nesta simbiose e parceria
Sobrevive o homem do sertão
Na esperança de ter algum dia
O respeito dos donos da nação
Pois como dizia o Gonzaga
A esmola prum homem que é são
Ou mata o cabra de vergonha
Ou vicia o pacato cidadão