Elegia incurável

As nuanças de um fim de tarde ofuscam os pobres olhos,

Dilaceram as últimas vísceras de alarde como único desejo de utopia.

Esquece-se daqueles indigentes sem qualquer condição de moralizar-se.

Transformam-nos em espaços vazios de alma sem prestar-lhe respiro,

Tratando-os sem esmero algum, sem conhecê-los o respeito.

Tudo se abre em angústia interminável, inalterável...

Nem sequer abrem-se as falas para fechar os corpos deste mal.

Tenta-se persuadir para fora deste infame espetáculo,

Querendo evadir-se para algum lugar menos inescrupuloso

Descobrindo que foge d’algumas mãos, por medo destas, o próprio juramento.

Corrompe-se a visão daqueles que nada suportam apenas além do próprio corpo.

Prendem-nos a um degredo da própria insegurança e desconforto,

E nada pior que tentar curar-se do próprio infortúnio que os desencanta

De qualquer desejo, sem menos pensar naqueles que apenas tentam perecer

Da angústia pior que a própria dor de não mais aguentar-se.

Foge o paciente da própria paciência em qualquer desígnio que o seja,

Pois acaba se destruindo mesmo diante de qualquer filosofia positiva.

Mas tende pelo menos piedade daqueles que não fogem do sistema,

Daqueles que trabalham sem alternar-se com o próprio conforto

E que tentam introduzi-lo em si mesmos através do próprio cansaço.

E tende ainda mais piedade daqueles que sonham acordados com mais trabalho,

Pois só assim fogem da dor e sonham com a vontade de querer mudanças no conhecimento

Daqueles que se julgam mais sábios por beneficiar-se da dor.

Tenta-se, assim, curar-se de alternativas ineficazes para conseguir consolação

E almeja-se a cura para a enfermidade conhecida, mas sem solução.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 11/11/2010
Reeditado em 19/08/2014
Código do texto: T2610479
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