11:11

O telefone toca.

Hesito.

É tarde da noite e ele toca.

E eu hesito.

É um número desconhecido.

Estico o braço e o alcanço.

E hesito.

Não conheço o número.

De quem será a voz?

Hesito, pois estou um caco.

Hesito, pois tenho insônia.

Hesito, pois minha articulação verbal

é hesitante.

Atendo e a voz pergunta por um nome.

Um nome que muito conheço.

O meu nome.

Hesito, pois não conheço a voz.

Não de imediato mas,

num segundo ato

o inesperado vira fato.

Hesito, na ebriedade do momento.

Deixo fluir, entremeada à hesitação

a virulência de tão aguardado arrebatamento.

Que surpreende com a voz que treme

e que me faz tremer, me arrepia a espinha

me retira da condição macho-seguro-dominante

num rompante me encaminha à me transformar numa mocinha.

Que perde a linha e o cabelo desalinha

enrolando-o nos dedos, que tropeça nas palavras

engrolando-as nos medos e, que desnuda

com os lábios no bocal

o mais secreto dos segredos.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 21/10/2010
Código do texto: T2568967
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