Vestígios tardios de um poema

Um verso perdeu-se entre as páginas

do velho livro que fora esquecido

na poeira do tempo.

Penso no tempo de Deus, que

difere do humano, e fico perdida

à margem da folha em branco,

esperando a palavra incontida

no verso, a arquitetura das

estrofes na construção

sublime do poema.

Há uma busca e uma espera

no átimo de tempo entre

inspiração, poema e pensamento.

Por vezes, um título aflora primeiro,

o corpo vem depois,

na tessitura do próprio poema.

Em outras, uma frase inteira

segue em disparada, deslizando

na brancura maculada pela

tinta como se essa fosse o

sangue que corre suave

ou frenético em minhas veias.

Saramago partiu, deixando orfã

uma literatura inteira, triste

mais uma entre tantos

de seus leitores.

A poetisa lamenta e busca

nas entrelinhas de um texto

qualquer, ou na emoção dorida

de uma lembrança, os vestígios

tardios de um poema.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 21/06/2010
Código do texto: T2333021
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