Tão perto e tão longe de mim

Não há quem ouça meu grito,

quase desisto, voz já é rouca

e aqui preso nesta masmorra

o que me resta é orar, contrito.

Há tantas dúvidas se há lá fora,

alguma vida, se há canto e luz.

Olho pra parede que era algoz,

e agora é amiga, companheira.

Impede que a que me espreita,

a loucura dos desesperançados,

chegue de uma vez e me invada

provocando desespero e pavor.

Vá longe, afasta-te insanidade.

Ânsias daquela boa demência,

de imaginar sua leve presença,

ali, recostada no outro lado,

estendendo para mim as mãos

e nelas eu acolho a liberdade.

Nesses vastos e doces delírios

sou seu cúmplice parede amiga.

Traga notícias dela, a amada,

conta-me das suas caminhadas.

Ela que passa linda, perfumada,

tão perto e tão longe de mim.