PAI NOSSO

Porque me acordas com tanta água?

Molhando meus jornais e meus trapos?

Enchendo meu peito de mágua.

Porque sou teu filho os maus tratos?

Toda esta fúria é porque me amas?

Por isso me fizeste torto?

Que deveres me reclamas?

Porque não decretaste um aborto?

Meus sapatos herdados do lixo.

Machucam e corroem meus pés.

Nem me adianta o crucifixo.

Afinal pergunto, quem és?

Uma moeda cai no chapéu.

É porque quem dá te empresta?

Tu os pagarás com o céu?

Para mim afinal o que resta?

A fome é uma dádiva divina?

Pra curar a alma e merecer perdão?

Mas porque devo cumprir esta sina?

De rastejar de joelhos ao chão?

O pão nosso de cada dia,

Nos daí hoje! Onde anda?

Só como lixo, porcaria.

Lata de lixo virou vianda.

A garota de minissaia que passa,

Me provocando maldosa,

Ri e zomba da desgraça.

Se falo uma bobagem foge nervosa.

Porque permites a vexação?

Permites-me apenas rastejar.

Depois me deixas na mão.

Devo apenas te perdoar?

Ta certo eu sou mendigo

Esquecido por meu pai

Mesmo assim eu te bendigo

Vou pra onde o vento vai

Não pedi pra nascer torto.

Minha mãe me jogou fora.

Meu pai deve estar morto

Onde anda nossa senhora?

Ninguém quer um aleijado

Que se move de arrasto.

Sonhando caído ou deitado

Meu sonho já está gasto.

De um dia poder andar

Olhar para o céu orgulhoso.

Ter vontade de te amar.

Sentir que afinal és bondoso.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 01/05/2010
Código do texto: T2231032
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