Tormenta Marítima

Tormenta Marítima

Tormentas da nossa vida

Mar de sabedoria

Deus me permita todo dia

Voltar sempre com alegria.

Ondas brancas que balançam

Sol quente que ilumina

Raios de muita esperança

Horizonte que encoraja e anima.

Vento que sopra forte

Farol que clareia o retornar

Bravios mares que balançam

Barco que singra a derivar.

Valentes homens do mar

Canção a entoar

Lua sempre a clarear

Maré baixa e maré cheia

Estrela D’alva a brilhar.

Tormentas da nossa vida

No horizonte os primeiros raios de sol

As ondas quebram à beira-mar

O mar convida a pescar

Hoje é dia de pescaria

A aurora anima a trabalhar.

Todos a postos e prontos para partir.

Lá fomos nós a singrar

As velas abertas a brilhar

Contra as ondas a pulsar

Remamos contra as marés

Contrariando a preamar.

Mares bravios, ventos fortes

Nuvens brancas, céu azul

Ondas que balançam

Mar que amedronta.

Barco que desliza sobre as águas

Pássaros marítimos a sobrevoar

Curva do mar esconde nosso lugar

A espuma na água indica o nosso rumar

Assim saímos para pescar.

O local parece ficar onde começa o céu,

E o céu finda onde começa o mar

O vento soprava a nosso favor

Ainda que distante, logo aportamos por lá.

Naquele ponto final ancoramos

Por ali já estava quem busca o peixe pescar

A camaradagem era melhor das pescarias

Raios solares matinais

Viram espelho no mar.

Os peixes se multiplicavam em cardumes

As correntes do mar levam os sem âncoras

De repente, entardecia

Ventos e ondas se misturam em balé de melancolia.

O crepúsculo encaminha o por do sol

O por do sol anuncia o anoitecer

A onda quebra com a sua crista mais alta

Éramos uma pequena ilha no oceano a flutuar.

Logo o tempo ficou estranho

Nada era reconhecido

A tripulação procura alento

Amargo é o sabor da realidade

Estávamos ali naufragando.

Perdidos naquele lugar

O vento açoitava, a tripulação tremia,

A maresia turva ofuscava

Nada por ali se via.

Uma tempestade de repente surgia

O mar estava revolto

O acoite corria solto

Faltava alguém para acalmar.

Tormentas da nossa vida

O barco tomba e mostra seu casco

Agarrados sempre ao lado, no milagre a pensar

A canoa emborcada, a desgraça veio à tona

A longa distância afastava a esperança.

O retornar era a mais pura fartura sem samburá

A esperança é a única que não morre

Não tinha quem nos ouvisse

Mas tinha por quem chamar.

Estávamos unidos no mesmo barco perdido

O calor abafado deu lugar ao frio gelado

O medo e a coragem levaram à sobrevivência.

E assim o tempo passava sem poder desanimar.

Agora Ilhados e sem rumo

Sem água e sem pão

Isolados do mundo

Sem ter quem desse a mão

Assim estava a tripulação.

Na abundância da escuridão

O vento uiva forte e assombroso

À noite, céu, terra e mar tudo era uma treva só

O barulho do mar amedronta

Enquanto o pensamento vagueia em desespero.

A rotina era o revezar do pensar e resistir

Pés no chão era uma necessidade

Momentos de aflição, muita ponderação

Alhures, todos por um e a todo vapor.

Fragilizados e esgotados

O pânico ondulava sobre nossas cabeças

O barco balançava livre

Não tinha como escapar.

Tormentas da nossa vida

Virada e submersa, a nau tornou-se bóia.

Sem leme e sem direção,

Seu mastro voltado pro o chão,

Assim o barco flutua, a mercê da escuridão.

Horas de raro desespero

Dias de intenso calor

Noites de toda treva

Águas de mar revolto.

Ventos que sopram sem trégua

Oceano de muito alvoroço

Queimaduras por todo o corpo

Assim vivemos aquele sufoco.

Durante todo alvoroço

Com aquele triste pesar

Nos momentos de paixão

Ficávamos muito a pensar.

Ali era sempre um anoitecer

Sem nada a contemplar

Dos nossos vinham saudades

Nós a pedir caridade

Saudades do meu lugar

De lá lembrança não vai faltar.

Naufragados ficamos nós

No centro do desespero

A resistir pra voltar

Pra rever o nosso lugar

E abraçar quem nos amar.

Bem distante surge um vulto

Ao longe navega um barco

Sem pressa ecoa um vapor

Que singra sem nos mirar

Braços a balançar

Para a atenção alcançar.

Não éramos vistos nem ouvidos

O pedido de socorro foi em vão

No horizonte nada se via

Mas se enxergava bravura na tripulação.

No oriente novamente nasce o sol

Por trás das nuvens surgem os primeiros raios

O tempo fica ensolarado

A esperança se renova mais acolá.

Em mais um dia moroso

O longo esforço nos preocupava

O pensar vagueia pelas paisagens da terra

O sol arde e pele salgada a queimar.

Há muitas léguas de distância

As várias milhas sem notícias

Há mais tempo sem alimento

Ali pouco estava ao alcance das mãos.

O pensamento nada materializava

Só a mente germinava esperança.

O pensar era a única forma de realizar sonhos

O passado estava todo no presente

O nosso amanhã era a volta ao passado

O futuro imaginado era só o caminho do lar.

Nuvens brancas planam sobre nossa aflição

O vento assobia e as vestes tremulam

A comida é escassa e o peixe cru é a opção

De amigos viramos irmãos de sofrimento.

Nada interessava senão o viver

De todos os esforços

O pensamento era o mais ágil e mais lento ao agir

O tempo parecia parado

As horas se arrastam ao sabor da lentidão.

O cansaço, a fome e a sede nos abatiam em comunhão

O frio e o calor eram um desconforto só

A temperatura queima e o sono dominava os bravos

O calor era o menor dos sofrimentos vividos

Os lobos do mar estavam sem fôlego e fatigados.

Tormentas da nossa vida

Nos incontáveis mergulhos vinha à tona o sal da vida

O gosto salgado nos lábios alimentava o auto-controle

O sal da água adoçava nossa vida

O saciar da sede era puro sofrimento

Tudo aquilo era uma grande provação.

A força do pensamento alimentava o físico esgotado

Gaivotas pairam e fazem mergulho acertado

Não mais que o nosso viver desejado

Ao cair da tarde, no por do sol o ocaso da esperança.

A noite cai em silêncio

Só as ondas quebram em barulho

Uma prece ecoa, todos param, ouve-se o sussurrar

Sentíamos dormindo para um pesadelo simular

Desprender-se de tudo era a certeza de flutuar.

As estrelas distantes eram mais cintilantes.

A noite era uma treva sem começo e já sem fim

O arrependimento vagava entre todos os pecados

O balançar do barco palpitava o remorso em cada erro.

A visão noturna era só as estrelas a ofuscar

Ali, céu e mar é tudo que a vista alcança

Na escuridão tenebrosa valíamos do Bom Pastor

Assim, as noites já não eram mais uma criança.

A nado, o retorno imaginado

Que bom não se ultimou

Abandonar o barco

Seria mudar de náufragos a isca no mar.

Acolá o mar é profundo

Perto ou longe nada se vislumbrava

Apenas crescia o oceano das incertezas

Mesmo assim se conta esta história com beleza.

Tormentas da nossa vida

Ao longe os amigos se juntam em oração e apoio

A família reza uma prece

O alerta reanimava todos os náufragos

O mar se mostrava sempre revolto.

A chuva mostra sinal de preocupação

O céu escuro era cortado por um forte clarão

Faltava força para o otimismo

Mas sobrava vontade pra viver.

A nuvem escura trazia mais desespero.

O Pensar era sempre em escapar com vida

As ondas tenebrosas cobriam a nossa esperança

Valorizávamos tudo aquilo que longe abandonamos

Concluímos que a dor tem o seu lado compensador.

A todo instante Deus pairava sob a forma de conforto

Já não parecia que o caminho inverso tinha sido desfeito

Na solidão surge uma voz longínqua – um bom sinal !

O sol novamente brilha trazendo fé e alegria

O salvamento estava tão distante quanto perto parecia.

Na orla marítima

Muito mistério e preocupação

Já não valíamos tanto,

Mas éramos notícia e choro em profusão.

De repente, um grito de alegria

Muito distante um sinal de esperança

Surge um gesto deslumbrante

Algo se movimenta lentamente

Ao encontro, outros bravos não vagantes.

Na superfície do oceano

Singra o milagre em forma de barco

Na vastidão do atlântico

A certeza em divindade

Se as linhas estavam tortas

Certa estava a escrita divina

“Livra-te dos males,

Que dos ares te livro cá”.

Tormentas da nossa vida

Na imensidão das águas

O resgate alça sobreviventes

O Desejo foi conquistado

Tudo vai ficando pra trás menos a dor e o amor.

Peixes que desfilam em alto-mar

Embarcação sem pescaria

Barco perdido que fica pra trás

O peixe que não foi pescado

A isca que não foi comida

Pescadores sãos e salvos

Famílias comovidas a esperar.

Finalmente a salvos e sãos

Longe da tormenta

Agora com os pés no chão em terra firme

Na praia da esperança

Na estrada do bom retorno.

Não declinamos arrependimento

Nem reclamamos da sorte

O perigo faz parte da vida e da morte

Pior do que se arriscar é não se aventurar.

O que é cheiroso nem sempre é o mais gostoso

O lado bom tem seu inverso no mau

Quem não arisca pode até não perder, mas nunca ganhará

Um olho no gato permite o outro no peixe.

De tudo fica um ensino

Com essa dura experiência

Não se pode ir ao mar

Só pra ir e pescar

Temos que estar prontos

Também para voltar.

No caminho para o lar, - a felicidade

No calor da família, - o reconhecimento

No consolo das palavras, - o encorajamento

Na fartura da ceia, - a certeza de novos dias

No pranto a rolar, a emoção do encontrar.

Nos braços da pessoa amada, - o carinho adormecido

No agradecimento a Deus, - a prova de sabedoria

O reencontro com todos, - é pura alegria; Assim,

Brota a irmandade dos naufragados

Fica o exemplo de superação pela fé e união.

Tormentas da nossa vida