Rio Piabanha - Petrópolis RJ



IMPRESSÃO  I

Névoa branca, quase um muro.
Difícil enxergar nesse ruço
o que se esconde lá atrás.
Mas o rio está lá, eu bem sei que ele está,
pulando carniça com as pedras meninas,
namorando as hortências que na beira se inclinam...
Escorrendo moroso no seu leito limoso
no vagar de seguir, sem nunca se apressar.
Quantas vezes o vi e invejei sua graça
a correr junto à Praça... sob as pontes pequenas...
percorrendo a cidade em total liberdade,
no direito de ir ou, talvez, de ficar.
Aonde eu ia, eu o via. Eu o via e sorria.
Ele ria de volta para mim que entendia
o que então me dizia nesse tempo de fadas
em que cada palavra tinha o som de veludo,
em que o tudo era nada, e o nada era tudo.

Já, agora, que pena, eu cresci e perdi
o poder de entender a linguagem dos rios,
a linguagem das flores, a linguagem do mundo.
Só restou, em verdade, uma imensa saudade
                     ...e um desgosto profundo.