NÃO PONHO A COLHER   (EC)         
 
Neste dia tão cinzento,
eu solto no ar meu lamento,
porque a noite é sempre escura,
pontilhada de amargura,
e a lua pura e nua
não alcança aquele canto,
aquele recanto escondido
onde os passos são perdidos
 - a alma se dobra e soçobra.
Assim, também, este corpo,
mergulhado em desconforto,
tenta encontrar um alento
para afastar o tormento
que permita ver o dia
radiante de alegria.
Alegria eu tinha antes
quando era jovem o bastante,
e olhava a vida com graça.
O tempo, porém, ele passa.
Levou a graça que eu tinha,
agora são, pois, ladainhas
que desfio em meu rosário.
 
Mas que papo funerário...
Vou mudar depressa o tema
e falar, no meu poema,
daquilo que bem  eu quiser.
Vejam só a sopa quente
que puseram à minha frente:
não, não ponho nela a colher !
Não quero queimar a língua
pra depois ficar à mingua
sem um socorro qualquer.
Ah! Enfim, suei, sofri, 
porém, graças, eu consegui
falar no tema proposto.
Foi difícil eu confesso,
e perdão até eu peço,
digo que não foi por gosto.
Foi somente incompetência
- pagarei a penitência,
mais tarde... à tarde, ao sol posto.

                 . . .
Se incompentência tens,
Não sei onde a escondeste,
Que ela sumiu, como encanto,
A que nos desses um tanto
Desse talento inconteste
Que guardas entre os teus bens. 

                      Mario Roberto Guimarães

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Não Ponha a Colher.
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