Este poema foi publicado em partes e tem o seu melhor sentido quando lido na íntegra e pela ordem.


SUBTERFÚGIOS - NONA PARTE

Anoiteceu definitivamente;
A noite é a lua,
Ainda que me flua
Algum sentimento de nascente.
 
Minha alma é mesmo
Uma mulher: esquecida,
Desamada, violentada,
Mas ainda mesmo assim
Conserva, apaixonada,
Candente, os sonhos da vida.
 
As pequenas pessoas explicam
Em Deus os seus fracassos;
As pessoas médias atribuem
Ao Sistema as suas desditas;
A nós outros só nos resta
Fazer eco em nós mesmos,
Ficar com esta culpa matéria,
Incômodo de ser matéria,
De viver matéria,
Subterrânea,
Produzindo subterfúgios
Pela vida, inconfessável.
 
Para que serve o choro
Se não é para chorar
O nosso amor madrugado
Ainda não amanhecido?
Cada espera com o seu descaso,
Cada bebida com o seu porre;
Na mesma ânsia em que me atraso,
A tal da vida escorre, escorre.
 
Ontem, talvez nunca;
Hoje, para sempre, sempre mais;
Amanhã, nunca mais.
“Après-moi” o mundo
Não terá mistérios;
Surpreendi-me tendo invejas
De mim próprio.