Do Que Tenho Medo

Não só de um súbito raio,

Da zoada e seu clarão,

Também das pedrinhas de gelo

Furiosamente lançadas, tenaz

E certeiras, contra o chão.

Também contra os vidros das janelas,

Telhados e destelhados “carrões”.

Não só da força fina de

Grossas gotas d’água

Perfurando o árido chão,

Percorrendo veias, ruelas

Que como sangue

Borbulham e fazem pulsar,

Bater mais rápido o coração.

Não só de catástrofes anunciadas

Profecias, tempestades, inundações...

Previsões de um futuro escuro,

Sem sombra de segurança

E fartura de pão.

Mais do que tudo isso,

Temo a ignorância humana.

A extrema arrogância,

A incapacidade de dar e pedir perdão.

Falta de empatia pela dor do outro,

O egoísmo afogando o que resta de razão.

Temo a falta de esperança

O pessimismo, a falta de fé.

Que muito mais do que a peste

Contamina, se alastra e destrói.

E no meio de tanta dúvida

Uma só certeza nasce:

-- De onde?

Isso não lhe posso responder --

De que a vida novo caminho SEMPRE encontra

Uma nova forma de “seguir”, “renascer”.

Por isso mesmo, ao invés de

Ao pessimismo me entregar,

Mais prudente me parece,

nessa estranha dinâmica, na

Continuidade da vida crer

E divulgar.

“Aguarde e confie.” – sussurra o universo.

“As tempestades passam, fica a bonança”

Para quem nada mais – parece -- a perder tem,

De nada custa manter a esperança.

Que temes então, ó deprimido coração?

'Temo mais do que tudo

Deixar-me contaminar

Pelos sentimentos daqueles

Que para dar nada têm,

Nem nada querem mudar.’

“O meu erro foi crer

Que estar ao seu lado

Bastaria

Ai meu Deus era tudo o que queria!

Eu dizia o seu nome...

Não me abandone...

Jamais” (1)

1 – Trecho da canção Meu Erro, Herbert Viana.