INVERNO PROFUNDO
 
Neste dia de inverno
Branco cinza frio,
Eu sinto uma profunda
Necessidade de crer,
Ditada por uma necessidade erótica,
Necessidade bem maior
Que a necessidade de ser.
Vibra-me nesta hora, também,
O sentido de uma intimidade,
Como a da mão direita
Dada a outra mão direita,
E que não é a minha;
Como a de um abraço estreitado
Entre alguém
Que se unisse a alguém,
Em silêncio, sob o frio
Deste inverno profundo
Externo ao calor de dentro.
Vontade de crer
Em uma intimidade comigo
E com os meus iguais.
Sinto-me, nesta hora fria
Deste inverno, amigo,
Tragando, ardente, a fumaça
De um cigarro
E soltando-a em lança forte
Como são fortes as aspirações
Que me acendem nesta hora
De inverno profundo.
 
 
                                               23.04.77

Sugestão de leitura: "O Castelo do Ogro"