"pena, que pena"

Por muitos sois e luas, ficaste ali quieta, parada, inerte.

Aprisionada horizontalmente, alucinada para rabiscar as palavras.

Nem ao menos citava trechos de um poema, nem falava de amor e nem da dor.

Sentia sede da tinta se espalhar pelo papel macio, formando um banco de idéias e de contornos verdadeiros; incomodava...

Foste criada para dar vida as letras, as formas;

Seu busto dourado cintilante e corpo azul marmorizado, anéis e ornamentos filigranados, ofuscava.

Pena fina ou chanfrada, cartucho ou conversor, tudo ali, ao meu dispor.

Majestosa, aguardava serena o grande momento de prazer.

Espelhar o sentimento e inebriar o momento;

Entorpecer o choro e pulverizar as emoções.

Ah! pena amiga, que pena!

Quantas vezes quiseram tirá-la de mim...

Excluir do futuro meus textos poéticos miudos e críticos, mas sinceros, por você assinados.

Logo, será um instrumento exótico, charmoso e raro.

Porque demorei tanto para dar-te vida?

Perdoi-me em deixar a ignorância sobrepor à inteligência.

Não tive a sensibilidade de perceber que quisera falar do luar, das flores, do mar.

De Machado, de Godofredo, de Alencar.

Ah! que pena!

Agora, como seu servo e senhor, lhe ordeno: saia e faça a felicidade e o amor pulsar sem medida, sem fronteira, sem pudor.

Sei o quanto estarás feliz em contar como a poesia é farta e bela.

Pena, qual a minha pena?