LÍNGUA PORTUGUESA
 
 
 
Oh, feliz língua portuguesa,
Que nos dá de presente
Um passado atemporal:
Esboçamos uma caricatura nossa
E a rechaçamos como alheia;
Perdemos a nossa noção;
Traduzimos “nocere” por “não-ser”,
Sendo o ser, nocivo, supostamente.
Vacilamos entre “nunc”, agora e nunca,
Adjetivamente passados e presentes.
Não há rima para o termo tempo –
Basta termos “terminus”, meta;
“Meta” do grego, médio, meio,
Transgressão, transcendência,
Metamorfose, prefixação sem fim.
Nós perdemos: só importa o “nós”;
Não importam nem a perda, nem o tempo
Em que se dá a ação verbal.

Oh, feliz língua portuguesa,
Onde nos concebemos atemporais
(concebemos
presente do indicativo,
Concebemos
pretérito perfeito),
Onde sermos nós é passado e é presente.
Oh, feliz língua portuguesa,
Onde “nós” é o ideal de todo encontro
No presente brindado de passado.
 
29.04.01