RÊVERIE
 
Je toujours rêve de lui!
Cependant, je vois tomber des mondes
Et il n’y a pas un seul bruit;
J’aime, j’habite sous les ondes.
Si beau! Je n’en crois pas mes yeux.
En courent les champs, en rêverie,
Je me trouve devant Dieu.
Quelques pas plus, je toucherai la folie.
 
Je toujours rêve de lui!
L’âme est le pays de l’angoisse,
Cette malade fille de la nuit,
Qui, n’importe quelle gloire, jamais passe;
Et c’est là que les rêveries
Devienent les vrais événements,
Parfois amers, parfois amis –
Dans un rêve, les rêves de mille ans.
 
 
Je toujours rêve de lui!
Cette vision n’a jamais changé;
Encore, la fièvre me poursuit.
Les mensonges, la verité,
La merveille, la souffrance,
Les ronds du temps, le jamais vu,
Essayent, a la fois, leur danse –
Ces artistes portent mon inconnu. 
                                                                  31.10.1979
 
 
  A pedido de uma nossa colega do Recanto, eu apresento uma tradução bem livre e literal do poema, que já deixa de ser poema, seguida de uma explicação.

DEVANEIO
 
Eu sempre sonho com ele!
Entretanto, vejo tombarem mundos
E não há um único ruído;
Eu amo, eu habito sob as ondas.
Tão belo! Eu não creio em meus olhos;
A correr pelos campos, em devaneio,
Eu me encontro diante de Deus.
Mais alguns passos, eu tocaria a loucura.
 
Eu sempre sonho com ele!
A alma é o país da angústia,
Essa filha doente da noite,
Que, seja qual for a glória, jamais passa;
E é aí que os devaneios
Tornam-se os verdadeiros acontecimentos,
Às vezes amargos, às vezes amigos –
Em um sonho, os sonhos de mil anos.
 
Eu sempre sonho com ele!
Essa visão jamais mudou;
Mais uma vez, a febre me persegue.
As mentiras, a verdade,
A maravilha, o sofrimento,
Os círculos do tempo, o jamais visto,
Ensaiam, ao mesmo tempo, sua dança –
Esses artistas portam o meu desconhecido.
 
 
Caberia, é óbvio, a pergunta: com quem eu sonho sempre?
Aos muitos que não sabem, eu sou psiquiatra; por isso, as coisas da alma, os sentimentos, as inquietações existenciais, estão tão presentes naquilo que escrevo. Se perguntássemos a Freud, ele diria que “ele” é o “id” (a Wikipédia tem uma conceituação bem acessível e segura do que seja “id”), que vem do latim e significa “isso”. Mas “isso” é pronome demonstrativo impessoal, que em francês seria “ça” – o poeta preferiu trocar por um pronome pessoal, oblíquo, “lui”, para deixar o texto mais denso e humano; ao invés de dizer “sonho com isso”, diz “sonho com ele”, dando uma personificação a nosso substrato instintivo e inconsciente. Com a devida licença.

Rafael Teubner.