Turvaam-me a água

TURVARAM-ME A ÁGUA

Vezes muitas me desconsolei por ingratidões. Doeram-me os atos que contra mim praticaram, num atentado aos meus sentimentos que sempre julguei os mais puros. Apertou-me o peito a inocência dos meus ideais.

Desencantaram-me os bons sentimentos.

Eu os tive.

Perdido na encruzilhada das angústias, ladeado do agreste da indiferença, tropecei na estrada escura... Vacilei no caminho das incertezas.

Como o sábio que sucumbiu em busca de suas origens, o medíocre também sucumbiu, por força de inquirir seus sonhos, revolvendo um passado distante, que nada mais recorda e nada mais pode dizer. Eu, o medíocre, me recolhi naquela amarga meditação que inspirou o Buda, à procura da inútil busca que aflorou na minha vida em tão má hora. Recordei-me da singela fábula e me curvei ao peso do insucesso. Não me lembrei jamais de ter turvado a água...