Vidas

Dizem que gatos têm sete vidas.

Quantas vidas será que inda tenho?

Uma delas gastei bem pequena,

Em fração de segundo

Ao escapar fedendo,

A fumaça e óleo diesel,

De ser tragada

Por um ônibus lotado,

Furibundo.

Outra que, por inexperiência,

Ou por pura ingenuidade,

Abri mão de bom grado.

Foi quando então a Vida me deu

A crisis de recomeçar,

Bem do comecinho,

Tudo cheirando a novo,

Renovado.

E a terceira quando não esperava.

Por certo, não é assim que vêm os ladrões,

Quando não contamos?

Aliás, EU esperava.

O que não esperava era perder

O que esperava como perdi,

E ao mesmo tempo ganhar

O que ganhei,

Recebendo o que recebi.

E com toda aquela dor.

Doeu, doeu muito.

E quem disse que nascer não dói?

Vai ver que é por isso mesmo

Que todo recém-nascido chora.

E se não chora, apanha pra chorar.

Sair da casca fortalece e deixa marcas.

Marcas essas que carregamos

Para o resto das vidas.

E quantas vidas, meu Deus?

Quantas delas será que inda me restam?

Se sou leoa, tipo felino,

Possível é que me sobrem inda quatro

Das que me foram agraciadas.

A passagem do tempo me fez fraca,

Medrosa, de tudo à mercê.

E por isso agora não quero mais

Pagar pra ver.

Só quero

Viver, viver, viver, viver.

Para Micky.