Voo Noturno

À janela de casa

Entre tragos e baforadas

Garras pegajosas e afiadas

Tomam-me delicadamente pelos ombros.

Suspenso em um voo calmo

Sobre a cidade com luzes a cintilar

Traçando um corpo instável e colorido

Emaranhado por veias entupidas pela euforia.

As formas se misturam, as luzes se sobrepõem,

E o meu demônio me revela o que os olhos evitam:

Uma prostituta que volta satisfeita,

Outra que rasteja roubada e violada.

Uma velha vasculha o lixo

Sentada à sarjeta, pútrida.

Outra, com pilhas de lixos e entulhos,

Divide o quarto em um cortiço escuro.

Num apartamento sujo de luz fraca,

Em uma orgia violenta e insaciável,

Garotos ricos se lambuzam com um travesti,

Antes de voltar aos seus lençóis limpos e cheirosos.

Entre becos, taças, esquinas, caviar,

Paria o ébrio, torpor, sujeira, doenças,

Indiferença, mentira, violência, intransigência;

E vagam zumbis condenados à existência infernal!

Em uma janela, atenta-me o demônio,

Há mais um, não apenas um,

Sujo como todos, mais podre que vários,

Entre tragos e baforadas, defumado!

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