Jardineiro Vazio

Pica terra pilada!

Sinta meu enxadão

Que brutalmente te viola.

Umedeça-te ao meu suor

Digno do dinheiro do patrão.

Enriqueça teus torrões estéreis

Com o esterco fresco que te presenteio.

Deleita-te com a água que te banho,

Sede não mais sentirás.

Abra-te para minhas sementes e mudas.

Receba-as como filhas.

Aconchega-as em teu ventre

E as faça crescer fortes e viçosas.

Venham pequenos brotos,

Sejam bem-vindos a este mundo cinza.

Despontem-se, brinquem ao sol, pequeninos.

Abram tuas folhas ao vento.

Definhem entorpecidos com o fumo

Pulgões malditos.

Apodreçam ervas daninhas,

Sufoquem-se no veneno letal.

Às pestes que ousam invadir o jardim:

Eu as excomungo desse mundo!

Desabrochem frágeis botões.

Banhem-se ao sol morno.

Sacudam tuas gotículas de orvalho

Que cheias de vida refletem um mundo todo.

Abram-se, tímidas pétalas aveludadas.

Transformem-se em coloridas flores delicadas

Embelezem nossa vista, façam a paisagem,

Como pequenas virgens saboreando o vento.

Pairem tuas fragrâncias sedutoras

Para que transbordemos nossos corações

Dos mais deliciosos e nostálgicos sentimentos.

[Suspira o jardineiro, contemplando o jardim com o peito amargo]

Mas de que me adiantam as flores

Se as raízes não possuo?

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