Entre_linhas

nas ranhuras do seu corpo

me vejo acanhado

e às vezes muito louco.

galopo por entre as dobras,

cada qual mais perigosa

cada qual mais instigante.

são passadas convergentes

de um trote cadenciado e vibrante,

deste cavaleiro ousado e errante.

vou pelas mil vertentes – alagadas,

em deslizes divinais e carentes,

onde ouço os seus aís, ais, ais.

são ruídos carnais - labiais,

vindos dos doces matagais

e de outros e outros, quase iguais.

não pretendo ouvir qualquer palavra

e pra que ouvir? se o que quero é me violentar

como se eu fosse uma vil vagabunda.

eu me toco, eu me mordo,

eu me procuro no seu dorso

como se fosse um intruso.

vou a nascente,

planto a semente.

meu Deus! sou mesmo um doente.

mas e daí?

sou assim mesmo

sou teso, sou bicho do mato.

sou menino, sou querido,

às vezes sou marido

às vezes sou o prostituído.

ah! deslizo quase bêbado,

cambaleante entre os seus lábios

sem receio ou medo. vôo em pleno gozo.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 22/02/2006
Reeditado em 16/05/2012
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