Você do Espelho

Ei, você do espelho

Mas que rosto sujo, profundo!

Que da ausência das rosas,

Fez-se cravo-do-mato

Seco, mas intacto

Ei, você do espelho

Não se viu direito?

Vem cá, olha mais perto

Creio em teus olhos espertos

E que marcas são essas?

Por acaso foste pra guerra?

Te vejo sangrar

Mas não tem sangue

Teu rosto são pegadas pregadas

Na terra molhada

Formando crateras eternas

Vazias

E esse buraco?

Foi catapora?

Foi sim, senhora

Ora, ora...

E essas ondas?

Foram as espinhas?

Foi sim, senhora

E esses olhos?

Que caminho é esse traçado

Que delineia os roxos olhos avermelhados

Doloridos só por piscar

Seria esse o Riacho das Lágrimas?

Aquele lugar de noites mal dormidas,

Cabeça apodrecida, mais uma ferida...

Por onde jorra uma linha cheia e curva

Que de tanto correr

Deixou sua marca estampada na cara de uma menina de olhos tristes.

Mas ei, você do espelho

Você ainda não está se vendo direito

Precisa fechar os olhos e sentir o seu eu verdadeiro

Pois o corpo é tua morada

Não uma fachada a ser admirada, rejeitada...

Trate-se com carinho

Perceba o seu jeitinho

Pois ei, você do espelho,

Você é o que não dá pra enxergar

Quem sabe um dia eu chego lá!

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 19/06/2022
Reeditado em 20/06/2022
Código do texto: T7540708
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