MORTE DO MOURO GUACHO

Eu tive um rosilho mouro

Meu pingo de estimação

potranco criado guacho

Pelas voltas do galpão

Tratado a pasto verde

E comendo milho na mão

Domado se fez cavalo

Meu orgulho de peão

Flete de bancar nas rédeas

Florão de pingo campeiro

De trompa e passar por cima

Bueno pra lida e ligeiro

Tudo que eu ensinava

O moro sempre aprendia

Um comando de assobio

Meu cavalo obedecia

Certo dia uma trompada feia

De um touro de aspa fina

Pegou o moro de mau jeito

Pra morte triste assassina

Ferido foi se escarrapachando

Diante a morte a impotência

De anca caída no chão

Bombeava triste a querencia

Na dor escavava aterra

Ansioso para o galope

Como se atado o palanque

Atirado a própria sorte

Depois foi se planchando

Aos pouco esmorecendo

Os olhos já morejavam

Na sua agonia de morte

Ficava olhando pra mim

Parecendo até suplicar

Que eu um vivente qualquer

Pudesse a ele salvar

Nunca tive a pretensão

De ser um veterinário

O que aprendi foi tão pouco

Apenas o necessário

Mas me dava uma agonia

Ver meu cavalo se esvaindo

Sobre uma possa de sangue

Ele ali no meio gemendo

Aos pouquinho se aquetando

E foi parando o coração

Chorei abraçado a seu corpo

Ali estirado no chão

Depois pedi licença ao patrão

E sobre o tronco da figueira

Bem no fundo da mangueira

Cavei uma cova pra ele

Enterrei junto as encilhas

E tudo que era meu e dele

Lembrei, cavalo só tem valor

Pra quem vive do arreio

E o contra mestre o esteio

Pro campeiro e o sustento

Alem do triste sentimento

De se perder um parceiro

A alma parece chora por dentro

No momento derradeiro

ZECADIVINO
Enviado por ZECADIVINO em 15/11/2015
Reeditado em 15/11/2015
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